No relato da vítima, que não será identificada nesta matéria para preservar a sua imagem, ela alega que essa teria sido a primeira vez que o homem praticava as agressões e que ele estava alcoolizado na hora do crime.
Ao g1, a delegada Wanda Moura, chefe do Departamento de Feminicídio do Maranhão, destaca que, infelizmente, há muitos casos como esse, em que a mulher é agredida fisicamente pelo companheiro e ainda assim defende o agressor. No entanto, essa mulher não deve ser julgada, pois ela pode ser uma vítima de violência emocional.
“Por conta dessa violência emocional e na verdade, por conta dessa dependência emocional que a vítima costuma ter com relação ao agressor, infelizmente, há casos em que, mesmo com o registro, mesmo com provas cabais, a mulher vem na defesa do agressor dizendo que não quer pedir medida protetiva de urgência, que não quer que ele seja preso, alegando, inclusive, que aquela foi a primeira vez. A gente não deve julgar a mulher por se comportar dessa forma. O que a gente deve fazer, é fazer cumprir a Lei Maria da Penha”, explica a delegada.
Outro ponto destacado pela chefe do Departamento de Feminicídio é que em casos de lesão corporal, no contexto de violência doméstica, o agressor tem que ser preso. E esse tipo de crime não depende de representação independente da vítima. Ela denunciando ou não, o agressor pode responder criminalmente.
“Nesses casos de lesão corporal, não precisa de representação. É crime de ação penal pública incondicionada, então ele vai responder ainda que a vítima venha a defendê-lo, como foi o que aconteceu, e o que se deve fazer é encorajar essa mulher, que ela tenha atendimento psicológico, que ela consiga perceber que ela está vivendo um relacionamento abusivo e que ela consiga sair desse relacionamento abusivo”, afirma.
Wanda Moura explica que a violência contra a mulher não deve ser denunciada apenas pela vítima, mas por qualquer pessoa que tenha conhecimento dessa violência, seja um familiar, amigo, colega de trabalho e vizinho. E essa denúncia pode, inclusive, ser anônima, sendo que o denunciante não será envolvido no processo que será instaurado. Quem denuncia ajuda os órgãos de segurança pública a salvar a vida de mulheres, interrompendo o ciclo de violência.
“Infelizmente como vivemos em uma sociedade machista, muitas vezes a própria família, amigos, talvez até pelo homem ainda ser o provedor da família, em alguns casos tenta aconselhar a mulher que é vítima desse tipo de violência, a não denunciar, a tentar assegurar o casamento em prol da família. Mas isso não é bom pra mulher, não é bom pros filhos, não é bom pra sociedade, porque essa violência tende a crescer cada vez mais e, se não for interrompida, essa mulher pode sim vir a sofrer o feminicídio”, destaca a delegada.
Relembre o caso
“A gente não deve julgar a mulher”, diz delegada sobre caso de vítima que defendeu marido após sofrer agressão no MA — Foto: Reprodução
Um vídeo registrado por câmeras de vídeo monitoramento mostram uma mulher sendo brutalmente espancada nesse sábado (16), em Santa Inês. O suspeito da agressão é o marido da vítima, identificado como Jhonata Silva dos Santos, de 28 anos.
O crime aconteceu na rua Santa Cecília, no bairro Vila Militar. Nas imagens (veja o vídeo acima), é possível ver o momento em que a vítima é atacada, recebendo tapas e socos na região do rosto. Em seguida, ela é arrastada pelos cabelos na rua, e, na sequência, ainda é agredida com mais tapas.
Após a circulação das imagens nas redes sociais, policiais da Delegacia de Polícia Civil (PC-MA) foram até o local para investigar o crime. Ao conversar com os policiais, a vítima não quis registrar o boletim de ocorrência. Entretanto, as investigações sobre o caso já começaram mesmo sem a vítima registrar um B.O. contra o agressor.
De acordo com informações, o suspeito das agressões estaria embriagado e fugiu após a repercussão do vídeo. Ele está sendo procurado pela polícia.
Caso tenha identificado o suspeito, entre em contato, de forma anônima, com o Disque Denúncia Maranhão através do 181 (capital e interior) ou pelo WhastApp (98) 99224-8660 (que recebe também fotos e vídeos).